Crônicas

Dito em silêncio

“Superestimamos o poder das palavras e subestimamos a capacidade de nos expressarmos sem elas”.

Essa frase que ficou martelando na minha cabeça ao entrar no ônibus.

Levantei num salto as 5:30h e fiz tudo dentro do planejado. Cheguei na rodoviária 20 min antes do horário de embarque – tempo suficiente para imprimir o ticket no atendimento automático e embarcar).

O nosso destino era  Florianópolis. (Sim, nosso! Meu e da Arte ao Vento). Mas, para minha surpresa o tóten de impressão de passagens não estava funcionando. A fila no guichê estava longa e o tempo aos poucos ficando mais curto.

O relógio marcava o horário de saída do ônibus quando, finalmente, consegui o bilhete impresso. Precisava acessar o portão no piso térreo, mas com pressa e tantas bagagens, os passos não rendiam.

Me deparei com um lance de escadas rolantes. Opção impossível! Ao lado, a única saída: carregar a bagagem aos poucos nas escadas comuns. Estava aflita!

Nenhuma das pessoas que poderia me ouvir resmungar naquele momento notou a minha preocupação por estar quase perdendo o ônibus – pudera, eu também não disse nada que pudesse ser claramente ouvido.

Até que,  prestes a perder o ônibus, um  jovem muito solícito, percebeu a minha agitação enquanto ele subia pelas escadas rolantes. Assim que chegou, sorriu e apontou para a escada comum, logo ao lado. Sem que eu tivesse tempo de responder, rapidamente levou as malas mais pesadas para andar inferior e eu corri atrás com o restante.

Agitada e muito agradecida, desci falando sem parar.  Tentava explicar a situação enquanto falava mil vezes “obrigada obrigada…” . Até que, em gestos simples, ele me “disse”:
” – Ei moça! Desculpa, mas eu não ouço” – e sorriu.

Silenciei.

Admirei por instantes aquele sorriso tranquilo de quem entendia mais do que palavras. Sem saber ao certo o que fazer,  respondi com meu melhor sorriso e com a expressão naturalmente mais tranquila.

Assim que embarquei, escrevi a primeira frase desse texto para não esquecer mais:

“Superestimamos o poder das palavras e subestimamos a capacidade de nos expressarmos sem elas”.

Pensei em escrever muitas palavras aqui ainda. Mas, naquela manhã, o silêncio disse tudo o que eu precisava ouvir. Por isso, com alegria, finalizo fazendo dele minhas mais sábias palavras!

(…)

🙂

por Mirian Moraes